25/11/09

Portugal Profundo "Os esquecidos"

Quando se perdem 20 minutos a analisar a situação económica, social, cultural e politica da região de Trás-os-Montes (TM), chega-se á conclusão que o único título possível de uma qualquer rubrica é sem dúvida: “Os Esquecidos”.

As crescentes desigualdades nesta região portuguesa expressam perfeitamente o desprezo, que durante tanto tempo os nossos governos lhe têm atribuído.

É inquietante o processo de desertificação humana, o abandono e o declínio social, a inércia e a decadência das actividades económicas. São inquietantes as diferenças entre o poder de compra de pessoas que pertencem ao mesmo país, ao mesmo Estado. É inquietante a diminuição da natalidade e o envelhecimento. É inquietante o desespero de se sentir abandonado e a solidão.


As actividades económicas que predominam são de pequena dimensão e com inúmeras debilidades. A agricultura familiar atravessa muitas dificuldades e os agricultores são na sua maioria idosos que vêm nesta forma de vida a única maneira de subsistirem com as magras reformas que lhe são atribuídas.

As ofertas na Educação, na Saúde, na Justiça, no Trabalho e em tantos outros sectores são escassas ou mesmo nulas. Nascer em TM limita a vida e as ambições das pessoas, é um fosso inacreditável quando comparado com as possibilidades que Porto ou Lisboa têm condições para oferecer. A carga fiscal e os impostos, que todos pagamos por igual, são aplicados em mais de 90% dos casos em investimentos públicos nas zonas do litoral. Ainda perguntam porque é que defendemos a regionalização? Acabamos por pagar para ver outras cidades progredirem, outros cidadãos terem oportunidades.

E quando pensamos que pior do que o que estamos não ficamos deparamo-nos com uma ofensiva por parte do governo socialista, com o encerramento de escolas, maternidades e outros serviços de saúde, a transferência de pólos universitários, de linhas de caminho de ferro, de quartéis das Forças Armadas, de postos e delegações dos CTT, da PT, da EDP e de vários serviços públicos para outras cidades litorais. Como já alguém cantou: “São os loucos de Lisboa…”

Quando falam de uma terceira ligação Porto Lisboa esquecem-se que entre Chaves e Bragança existem menos de 100 km de distância mas que ainda se tarda quase 2 horas a perfaze-los. Quando falam em TGV’s não recordam todas linhas férreas que desactivaram em TM limitando a mobilidade dos residentes. Debatem-se assuntos como o casamento homossexual sem se pensar no número de famílias que se separam com a fuga para as grandes cidades. Investimento público? Sim, mas repartido por todo o território e estabelecendo prioridades.

Trás-os-Montes é uma região à deriva, perdida, esquecida e cansada, acostumada ao desprezo e ao abandono, rendeu-se. Regionalização, sim!

E numa tentativa de mostrar a inocência e o desinteresse deste povo tão maltratado pela vida, termino, citando a definição de TGV dada por um idoso transmontano:

“O TGV é um partido da oposição, que está a favor do casamento entre os paneleiros!”

VC

PS:este texto devia ter sido colocado aqui segunda, mea culpa, esqueci-me, a culpa não é da autora

1 comentário:

dani disse...

http://www.jornaldenegocios.pt/index.php?template=SHOWNEWS&id=398449