03/12/08

Histórinhas da Carochinha...

Caríssimos, aviso desde já que este texto é longo, e a história começa há muito muito tempo, não, não vou contar uma história de encantar, é mais uma história de assombro.

Há uns tempos o director do serviço de Oftalmologia do hospital S.Teotónio em Viseu, o Dr. António Martins enviou uma carta a vários médicos de família, a dizer para não valorizarem os exames feitos pelos Optometristas porque as informações prestadas por aqueles profissionais valem zero. Basicamente este senhor, queria que os médicos recusassem aos utentes o direito a uma consulta oftalmológica, caso esta consulta fosse encaminhada de um Optometrista.

A APLO, Associação de Profissionais Licenciados em Optometria, na voz do seu presidente, Dr. Eduardo Teixeira, reclamou destas declarações junto da Administração regional de Saúde.

Pois a resposta da SPO, Sociedade Portuguesa de Oftalmologia, foi a seguinte para a Direcção Geral de Saúde:

“Exmo. Senhor Dr. Carlos Pipa:


A medição da acuidade visual e o acerto da refracção do olho com a interposição de lentes (optometria) é uma pequena parte do exame Oftalmológico. Como é conhecido, um paciente pode obter, com uma refracção devidamente executada, uma acuidade visual de 10/10, e todavia estar gravemente doente dos seus olhos, sem disso se aperceber. Isto significa, que um exame puramente técnico pode originar uma sensação de segurança na saúde ocular, que não corresponde à realidade, e que adiará o diagnóstico e o tratamento de uma eventual entidade nosológica, com consequências que podem ser irreversíveis.

Por outro lado, a avaliação global do paciente, nomeadamente da população infantil, pode recomendar a hiper ou hipo correcção da refracção encontrada, em função do quadro clínico, ou mesmo a abstenção de prescrição de lentes. A avaliação deste contexto clínico tem, obviamente, de ser da competência do médico.
Os Oftalmologistas são apoiados, na sua actividade, por técnicos que trabalham sob as suas ordens e orientação, e que dão uma ajuda preciosa, permitindo uma economia do tempo disponível. Avaliam o equilíbrio oculomotor, executam exames campimétricos, elaboram estudos de contactologia, fazem exames tonométricos, electrofisiológicos e angiográficos. Mas tudo isto sob a alçada indispensável dos médicos, e sem terem qualquer hipótese de prescrição, cuja responsabilidade tem de ser sempre do clínico.

As pessoas que desejam prescrever óculos e lentes de contacto, fora do contexto médico, e que se designam por “optometristas”, trabalham invariavelmente em ópticas, onde misturam “consulta” com comércio e por isso é frequente os Oftalmologistas retirarem a certos pacientes o uso de óculos, por serem de potência e necessidade irrelevantes. Acresce que a prescrição de lentes, envolve um componente subjectivo e por isso uma refracção pode num dado momento ter um valor e no mês seguinte ser um pouco diferente, não havendo muitas vezes justificação clínica para mudar as lentes, como é sabido, mas muitas vezes ignorado por quem tem de satisfazer objectivos comerciais.
A Sociedade Portuguesa de Oftalmologia considera que a prescrição de lentes é um acto médico. A medida da lente pode ser efectuada por um técnico, mas, a sua prescrição final envolve um conjunto de normas de avaliação, que só o clínico está apto a fazer. Por isso, considera que os cuidados em Saúde Visual não podem ser outorgados a pessoas que vestem uma bata branca, mimetizam o acto médico e dão à população uma falsa sensação de segurança, tornando-os em consequência perigosos para a saúde pública.
Considera ainda, que agiu muito bem o Director do Serviço de Oftalmologia do Hospital de Viseu, ao aconselhar os colegas dos Centros de Saúde, a desvalorizar os rastreios efectuados por funcionários comerciais, empregando máquinas que dão erros graves, designadamente na população infantil, e que contribuem para piorar as já sobrecarregadas listas de espera com consultas que se vêm a revelar desnecessárias. É que há pais que não vão com as crianças à Óptica indicada pelos rastreantes, mas preferem tirar as dúvidas com os médicos.

A Sociedade Portuguesa de Oftalmologia considera importante o rastreio de patologia na População Infantil, e de resto, já há cerca de 10 anos tentou sensibilizar a Direcção Geral de Saúde para essa necessidade. Na altura estive pessoalmente envolvido no assunto, uma vez que era o Coordenador do Grupo Português de Oftalmologia Pediátrica e Estrabismo, que é uma secção da Sociedade a que actualmente tenho a honra de presidir. Esse rastreio deve ser feito nos Centros de Saúde pelos Médicos e Enfermeiros, que terão de ter uma formação simples e adequada, e para a qual se manifesta novamente a disponibilidade desta entidade para ajudar a prestar.

Creio ter esclarecido as questões que foram colocadas, mas, em caso de dúvida, fico à inteira disposição, para o que além disto for considerado necessário.
Com os melhores cumprimentos,

Jorge Breda

Presidente da SPO”

PS: Se esta carta é verdadeira ou não, ou se é confidencial, não vos posso garantir, mas posso garantir que espelha a opinião deste senhor, a qual ele está constantemente a colocar, aqui por exemplo.

LT

Sem comentários: